Segurança. Educação. Qualidade de vida. São estes os factores de atração para uma nova vaga de empresários brasileiros que se radicam em Braga. Durante o ano de 2018, vários compraram lojas de comércio e começam a investir em apartamentos e prédios na cidade para criar unidades de alojamento local. O período conturbado que se vive no Brasil trouxe-os para Lisboa, mas a confusão da capital fez com que procurassem outro local para viver. E assim encontraram Braga, onde pretendem manter-se para que os filhos tenham “educação” condigna e “segurança” no quotidiano. O Semanário V falou com dois empresários que adquiriram recentemente lojas na Rua do Souto e na Rua D. Diogo, duas das principais artérias de comércio no centro histórico de Braga.

Ana Tereza Braga, com 40 anos, abriu recentemente uma pizzaria na Rua D. Diogo de Sousa. A marca, “Splash”, é bem conhecida no Brasil e tem atraído a comunidade de mais de 10.000 brasileiros radicados em Braga, para além de turistas e locais.

Ao Semanário V, a empresária explica que a “Splash” é um negócio de família, iniciado em Manaus, o principal centro urbano, financeiro e industrial da região Norte do Brasil. “Decidimos abrir uma loja no estrangeiro e foi isso que nos trouxe até Braga”, afiança.

“Inicialmente queríamos abrir uma casa em Lisboa, mas acabamos por vir para Braga depois de uma pesquisa na internet sobre quais as cidades que estavam em crescimento em Portugal. Inicialmente ponderamos Viseu, mas Braga já era apontado por muitos como a terceira cidade do país, viemos cá visitar e ficamos apaixonados por este lugar. É a cidade perfeita”, atira.

A empresária aponta a “educação e segurança” dos filhos como principal motivo na escolha do local onde pretende ficar. Dois filhos andam em um colégio da cidade, comprou casa em uma urbanização de Gualtar e adquiriu a loja que viria a ser o novo negócio dela e do marido, João Paulo Marques, na rua D. Diogo de Sousa, uma das mais movimentadas da cidade em termos de procura por comércio. Ana mostrou-se “surpreendida” com o movimento gerado em Braga, confessando que “não esperava” que a cidade enchesse de pessoas de forma tão frequente.

A Splash abriu a 1 de maio de 2018, mas a história das pizzas já tem 35 anos, e é objetivo da empresária de “fazer diferente” em Portugal. “Quando abrimos decidimos implementar uma pizza de bacalhau, por ser o prato típico de Portugal. E temos vendido algumas [risos]”. No entanto, as pizzas mais tradicionais continuam a ser o prato forte daquela casa. A loja está integrada na rede de comércio local, tendo aderido este ano à iniciativa “Verde Cool”, da Associação Comercial de Braga, com uma pizza “leve” de nome Bianca.

Marcelo Sousa, carioca de classe alta, veio para Braga após um sequestro em São Paulo. “Foi a gota de água. Depois de ter vivido no Rio de Janeiro e de ter sido assaltado nove vezes, mudei-me para uma região mais calma de São Paulo, onde era diretor executivo de uma empresa de tecnologia. Depois de um sequestro muito violento que lá tive, decidi largar tudo e vir para Portugal”.

Depois de dez anos sossegados em São Paulo, o violento sequestro que, diz Marcelo, “era história para encher o prato do jornalista”, não quer recordar. “Nos dias seguintes falei com o meu irmão que estava em Lisboa, pedi a demissão e vim para cá com a mulher e os filhos”, conta.

Após algumas semanas em Lisboa, escolheu o “desenvolvimento” de Braga e a boa altura para investir, não só nos negócios mas “sobretudo na família”. Os pais de Marcelo estão a preparar também eles a vinda para Portugal, onde pretendem passar a velhice e também vão investir em alojamento local.

Quando Marcelo fala em “investir em Braga”, não o faz só na restauração. O primeiro passo foi comprar a sempre concorrida loja da Nut’ Braga, situada no n.º 135 da Rua do Souto e especializada em crepes e outros ‘doces’ acompanhados de Nutella. “Comprei a loja e comprei a representação da marca na região de Braga”.

Mas Marcelo não se ficou só pela marca mais badalada de toppings para os mais gulosos. Uns metros mais abaixo, já na Rua Dom Diogo, e à boa maneira dos portugueses que emigraram no século passado para o Brasil, decidiu investir em… padaria. Comprou a Pretzel, que se dedica ao fabrico e comercialização de artigos de padaria e pastelaria. Se na Nut só trabalham portugueses, os que trabalham na Pretzel são em grande maioria brasileiros, mas Marcelo assegura que não existe discriminação e faz até o apelo a que mais portugueses passem pelas lojas para deixar currículo, uma vez que está à procura de funcionários, dado o movimento constante da cidade.

“Braga é uma cidade que gera muito movimento em vários períodos do ano e isso é muito importante para os comerciantes”, refere, mas aponta sempre a “segurança” como principal fator de uma “boa adaptação” a Braga. “Aqui não há insegurança, quando comparado com o Brasil. Nós lá estamos a viver um período de crise e com muita violência que não parece ter forma de terminar. Mas espero que um dia termine”, diz, confessando, no entanto, que a vinda para Braga é “definitiva”. ´”Isto é sério. Estou a investir por cá porque tenho ideia de ficar cá até ao final da minha vida. Os meus filhos já andam nas escolas portuguesas e já se sentem portugueses e a minha família já sabe que é em Braga que quero ficar. Os meus pais estão já preparando tudo para vir para cá também e vão seguir o meu investimento em alojamento local”. Marcelo já adquiriu um dos muitos prédios devolutos no centro da cidade [em São Vicente] para o transformar em alojamento local. “Estão a decorrer as obras e esperamos a breve prazo realizar a abertura”, avança em exclusivo ao Semanário V.

Segundo dados do plano para a Integração de Imigrantes do Município de Braga, entre 2015 e 2017, a comunidade brasileira representou 34,2% dos estrangeiros a viver na cidade, mais do dobro da ucraniana [14,9%]. Portugal acolhe cerca de 85.000 brasileiros atualmente. Só em 2017, o país emitiu perto de 61.400 vistos de residência a estrangeiros, dos quais cerca de 11.000 para brasileiros.

FONTE: Semanário V |23 Dezembro 2018 - 21:14 |Por Fernando André Silva