Eis uma pergunta clássica para quem está no mercado de habitação. Qual das opções é a melhor? Há muitas variáveis e o melhor é ter toda a informação para poder tomar uma decisão acertada.

A primeira opção é quase sempre comprar. Feitas as contas sem grande detalhe, o que a maior parte das pessoas faz é comparar a mensalidade do empréstimo ao banco e a mensalidade da renda de casa. Em muitos casos a opção é clara: sai mais barato comprar e pelo menos ficamos com uma coisa nossa. É uma característica cultural dos portugueses - gostamos de de ser proprietários da nossa casa. Quanto mais não seja para deixarmos uma herança para os filhos.

Mas antes de chegar a uma conclusão tão rápida acompanhe-me em algumas contas. Muitos portugueses esquecem-se dos custos "reais" de comprar casa. Sei que não gosta de ler textos que digam isto, mas a verdade é mesmo esta: "Cada caso é um caso".

Se pensa mudar de emprego e/ou de cidade deve optar pelo arrendamento. Se não tem dinheiro para a entrada de uma casa, não é uma questão de escolha. Só vai poder arrendar porque os bancos não lhe emprestam. Não se esqueça de que os juros podem subir a qualquer momento e de repente pode deixar de poder pagar a casa e fica sem ela.

Enfim, nem tudo é assim tão linear. Até porque em Lisboa e Porto o valor das rendas de casa estão um absurdo completo. Mesmo quem quer arrendar, não consegue.

Os custos "escondidos" de comprar casa:

Serve esta crónica, portanto, para alertar para os custos "escondidos" de quem pede um Crédito à Habitação para poder comparar racionalmente com o que pagaria de renda de casa, caso encontre uma pelo mesmo valor da prestação ao banco.

Que contas é que tenho de fazer para saber se devo comprar ou arrendar?

Em primeiro lugar, tem de ter consciência de que antes de pensar em comprar precisa ter já na carteira 20 ou 30% do valor da casa. Para uma habitação de 100 mil euros precisa de cerca de 30 mil euros para poder avançar. Ou os pais emprestam ou vai precisar de fiadores ou pura e simplesmente ninguém lhe vai emprestar o dinheiro na totalidade. Esse tempo já lá vai.

Mas não é apenas a entrada no banco que é fundamental. Há mais despesas que tem de ter em conta.
Vamos a contas.

Se arrendar uma casa por 600 euros vai pagar ao fim do ano 7.200 euros. Mas não se esqueça de que pode deduzir no IRS as rendas até um máximo de 502 euros. Se abater esse valor, fica-lhe em média a 558 euros por mês.

Por outro lado, se comprar uma casa de 150 mil euros a 30 anos, com um spread de 1.25 e der uma entrada de 20% estes são os custos iniciais que tem de prever (é uma simulação feita por uma imobiliária): Abertura de processo 550 euros; 1.860 € de IMT; mais 1.200 euros de imposto de selo e 751 euros para a escritura. Ou seja, só para a papelada, precisa de quase 5 mil euros. Para além disso, tem de ter capital para dar de entrada. 20% são 30 mil euros. Vai ter de os arranjar. Ainda não entrou em casa e já gastou quase 35 mil euros.
Depois há os custos mensais: 370 euros de prestação ao banco; 100 euros para o seguro de vida para duas pessoas e mais 45 euros de condomínio. Não se livra de 515 euros por mês.
Mas também tem custos anuais. 150 euros de seguro multiriscos e o IMI que pode rondar os 400 euros.
Dá um total de 6.730 € por ano, ou seja 560 €/mês.
Se somarmos os custos iniciais, ao fim de 30 anos terá gasto mais de 236 mil euros. Uma média de 656 €/mês.

Nesta situação hipotética, ao fim de 30 anos, arrendar sai 35 mil euros mais barato do que comprar casa. São apenas valores indicativos porque as mensalidades não são fixas e há os aumentos de renda. É apenas para ficarmos com uma ideia das despesas envolvidas num e noutro caso. O que pouparia dava para mais 5 anos de renda para além dos 30 anos do empréstimo.

Não se esqueça também de que se for o proprietário, todas as obras de manutenção são por sua conta. E se tiver o azar de arranjar vizinhos barulhentos está preso a essa casa e vai ser uma dor de cabeça. Por outro lado, ao fim dos tais 30 anos a casa é sua e deixa de a pagar. Se for inquilino vai continuar a pagar a renda até ao fim da vida e lembre-se de que ao chegar a reforma, o rendimento diminui. Pode ser um problema.

Cuidado com a taxa de esforço

Se optar por comprar, não se esqueça de que se agora os juros estão baixos, isso não vai ser sempre assim e que a prestação ao banco não deve passar 35% do seu ordenado, não vá dar-se o caso de ficar desempregado ou ter um problema de saúde e o seu rendimento baixar drasticamente.

Se entretanto quiser vender a sua casa, lembre-se de que para realmente ganhar dinheiro tem de somar todas as parcelas: desde a comissão à imobiliária, passando pelas despesas iniciais do banco, a escritura, os juros, os seguros, até aos impostos e o condomínio e multiplicar tudo isto pelo tempo que esteve nessa casa. Se não contar com tudo isto ainda se arrisca a vender com prejuízo, pensando que está ter lucro. A maior parte das pessoas com quem falei só fez a conta ao valor que pediu ao banco. Se pensar desta forma simplista, vai perder dinheiro.

Fonte: Casa Sapo