Nesta Primavera um dos temas controversos que tem marcado a atualidade é uma nova alteração ao regime de arrendamento urbano, ou dito de outra forma a nova geração de políticas de habitação.

Mais do que analisar o teor político da questão, gostaria de deixar algumas reflexões, que porventura poderão ser úteis, para ajudar a compreender toda esta temática num plano mais vasto.

Começaria por um dado surpreendente relativo ao turismo. Portugal é dos países do mundo com mais turistas “per capita”, sendo de facto impressionante que Lisboa e Porto recebam cerca do dobro de turistas “per capita” que outros destinos europeus, como por exemplo Londres, e que igualemos destinos consolidados internacionalmente como Paris.

Estes números fantásticos provam que, na prática, um habitante de Lisboa ou Porto tem um potencial de retorno com o turismo duas vezes superior, em comparação com os seus congéneres europeus.

A partir de 2011 a chamada “Primavera Árabe” impulsionou, ao longo de seis anos, em mais de 50% o fluxo de turismo e aqui podemos encontrar a base para o forte rejuvenescimento urbano verificado em todo o país e sobretudo em cidades como Lisboa e Porto.

Foi essencialmente o investimento privado, inicialmente de pequenos proprietários, famílias e pessoas locais que iniciou toda esta recuperação urbana.

Presentemente investidores de maior dimensão estruturados na boleia da rentabilidade turística designada de “short-rental”, assumem a maior reabilitação urbana de que temos memória.

Assim se encontraram formas e soluções para desenvolver esta área de negócio que recuperou um parque habitacional que há longos anos se encontrava desabitado, abandonado e degradado. A chamada “pressão turística e especulação” provocou um enorme desenvolvimento turístico e imobiliário, jamais visto nos principais centros urbanos.

Fora desta boleia, ficaram os grandes proprietários, Misericórdias e Estado, em que, sobretudo este último, não encontrando formas de reabilitar os seus ativos imobiliários foi obrigando os seus inquilinos a procurar melhores opções no mercado, aumentando-se assim, a pressão imobiliária sobre os pequenos proprietários privados, sobretudo no segmento mais baixo do mercado.

Outro dado para reflexão e de certa forme tranquilizador, pela dimensão diminuta, é que em termos nacionais das cerca de 800 mil casas arrendadas apenas em cerca de 1.705 (0,2%) se verificaram despejos e destes, cerca de 60% (1.023) localizaram-se nas zonas de Lisboa e Porto e na sua grande maioria por razões, não de especulação, mas relacionadas com a falta de pagamento da renda acordada com o senhorio.

Talvez por isso mais do que discutir exaustivamente esta questão que é sobretudo local e residual, será porventura melhor deixar o “povo” trabalhar e investir, já que como os números demonstram, neste tema em particular, “mexer pode estragar".

Fonte: Dário Imobiliário | Por: Gustavo Soares, Empresário e Gestor